Matheus Pereira, do Cruzeiro, compartilha sua batalha contra drogas e pensamentos suicidas

22/05/2024

Matheus Pereira, do Cruzeiro, compartilha sua batalha contra drogas e pensamentos suicidas

Matheus Pereira, principal destaque do Cruzeiro, fez um forte desabafo sobre sua luta contra a depressão, pensamentos suicidas e vícios. Em uma carta publicada no site “The Players Tribune” em 18 de abril de 2024, o meia-atacante abriu o coração sobre os momentos difíceis que enfrentou durante sua carreira no futebol.

Pereira, que hoje veste a camisa 10 do Cruzeiro, seu time do coração, detalhou sua batalha contra a depressão e a vida nas drogas e no alcoolismo. Ele celebrou a oportunidade de jogar na Toca da Raposa II, onde encontrou um novo começo e, finalmente, a reconciliação consigo mesmo.

“As pessoas podem dizer que hoje eu estou bem. Sim, eu estou. Ou que estou melhor. Melhor do que antes, sem dúvida. Mas sofri bastante até me recuperar. É difícil para os outros entenderem porque ninguém está dentro de mim”, disse o jogador.

Imigrante ilegal e drogas em Portugal

Matheus relatou o início difícil em Portugal, onde chegou como imigrante ilegal, impedido de jogar futebol profissionalmente. “Passei dois anos no Sporting só treinando. Não podia jogar nas competições por ser um imigrante ilegal. É uma condição desconfortável essa, de medo e insegurança”, escreveu.

Após conseguir a regularização e realizar atuações consistentes pelo Sporting, Pereira enfrentou a separação dos pais e uma jornada solitária, vivendo no centro de treinamento do clube. “Vivendo no CT, mais uma vez sem ninguém olhando por mim ou me falando sobre as coisas importantes, eu fui brincar na beira do abismo”, relatou.

“Me juntei à rodinha da maconha e passava muito, muito tempo chapado. Também bebia um monte e gastava o dinheiro que sobrava em baladas. Depois me sentia um trapo, um miserável. Me culpava de um jeito insuportável ao imaginar a tristeza dos meus pais se eles soubessem”, complementou o jogador.

Saídas do Sporting e novas mudanças

Na carta, Matheus conta sobre suas duas saídas do Sporting e como precisou lidar com a depressão em ambas. Na primeira, em 2017, atuou pelo Chaves, também de Portugal. Retornou aos Leões no ano seguinte, mas não se firmou e foi emprestado ao Nurnemberg, da Alemanha.

“Mas mal bati de volta em Lisboa e tive que me mudar outra vez. Alemanha. Fui emprestado pro Nuremberg. Eu não falava alemão, inglês, francês, nenhum outro idioma além do português. Então foi o período que eu vivi mais calado na minha vida”, relatou.

Nova fase no Al Hilal

Em 2019, o Sporting emprestou Matheus ao West Bromwich, da Inglaterra. No auge da regularidade, após duas temporadas consistentes, o clube aceitou uma oferta do Al Hilal, da Arábia Saudita.

“Era o tempo da pandemia de Covid, e os clubes resolveram segurar os investimentos. Apareceu uma proposta absurda do Al-Hilal, da Arábia Saudita, e eu me mudei mais uma vez”, disse. A mudança para Riad trouxe de volta o declínio psicológico, agravado pela falta da igreja e a vida isolada em um hotel de luxo.

“Pedi pra sair do Al-Hilal sem saber aonde ir. Naquela altura, eu não queria ir pra lugar nenhum. Eu não queria nada, não tinha mais prazer em nada, não prestava pra nada. Eu era um nada. Já tinha desistido de jogar futebol”, escreveu.

Tentativa de suicídio e reencontro no Cruzeiro

Matheus revelou a tentativa de suicídio em um momento de desespero, onde sua esposa o salvou. “Eu estava cansado de lutar. Estava cansado de ficar cansado. Eu queria me livrar de tanto sofrimento que eu nem entendia de onde vinha”, confessou.

Finalmente, contratado pelo Cruzeiro em meados de 2023, Matheus encontrou a redenção. “No Cruzeiro eu reencontrei mais do que paz. Eu me reencontrei. Parece bobagem, mas não é. Porque no meio da escuridão, e eu andei muito por lá, a coisa mais difícil que tem é a gente se reconhecer. E isso piora demais uma situação que já está ruim. A gente não sabe mais quem é”, disse Pereira.

O jogador finalizou a carta destacando a importância da terapia em sua recuperação. “Eu tô aqui de prova. A terapia me ajudou demais, e Deus me mostrou uma luz no fim do túnel. No meu caso, a luz das estrelas, que me guiaram na escuridão e recolocaram brilho nos meus olhos. Era o futebol me estendendo a mão — sim, mais uma vez.”

*Este texto contém gatilhos. Se você ou alguém que conhece precisa de ajuda, busque uma clínica de recuperação em Busca Clínicas de Recuperação.

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